quarta-feira, 19 de maio de 2010

Má experiência

Peguei num x-acto e cortei-me no braço. Fiz um corte não muito profundo mas deu para sentir dor, uma dor que foi causada por mim e não pelos outros. Pensei: Sofro tanto e as pessoas à minha volta não querem saber de mim, não gostam de mim, para elas não passo da desgraça da família!
Nasci de um casamento desfeito em que a causa de separação alegada por uma das partes fui EU. Tudo à minha volta me ignora ou faz sofrer, com palavras e agressões físicas. A minha educação não é boa, é a base de porrada cada vez que faço alguma coisa mal e pouca coisa me vale.
Tenho uma amiga que eu adoro e que muitas vezes faz vários papéis na minha vida, papeis que deveriam ser preenchidos por outras pessoas. Vi-a também nos seus momentos de dor e sofrimento a cortar-se e a observar como sangrava, usava depois o sangue que corria para escrever palavras num papel ali à mão. Estava farta de tudo e de todos assim como eu, como ela me percebia! Tinha pena dela e ela de mim, eu gostava dela e ela correspondia. Éramos unha e carne, inseparáveis, mesmo que os outros não gostassem de nos ver juntas.
Eu não tinha coragem para me cortar como ela…apenas chorava à frente do espelho, vi-a a minha figura nele e a vezes começava a gostar de me ver assim (os meus olhos verdes ficavam bem mais claros…). Chorava todos os meus momentos de dor, era fácil para mim fazê-lo, não tinha mais nenhuma maneira de desabafar se não estivesse com a minha amiga!
Depois ela teve de partir e eu fiquei cada vez mais sozinha, decidi então experimentar essa dor que ela me mostrava e que para ela tanto servia de modo de desabafar, como de vingança sobre o próprio corpo dos outros.
Assim fiz…
Comecei a ver o sangue sair, não era muito por isso comecei a chupa-lo para sair mais mas não adiantou muito. Então decidi cortar mais um pouco, desta vez custou-me menos fazê-lo. Comecei a achar piada e a lembrar-me das coisas más que me faziam. Eu controlava a dor, eu conseguia controlar essa dor e não os outros. Se eu quisesse conseguia ate provocar uma dor ainda mais forte que a dor que os outros me causavam. Pensava eu que era uma maneira de me mostrar mais forte que eles, que eu era dona do meu corpo e da minha dor. Estava enganada!

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