quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

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Quem não sabe estar na vida de uma pessoa, não merece ficar pois só lhe causa dor e mau estar....

Está quase a fazer um ano...

Está quase a fazer um ano avô que partiste...
Sei que desejavas a morte há muito tempo e doía-me muito ouvir-te chamar por ela quando falavas comigo mas agora finalmente descansas em paz...
Tiveste uma vida complicada e um tratamento que durante muitos anos não foi o melhor e não adiantava de nada chamar à atenção para isso. A solução foi meter-te num lar....que te levou a liberdade que tu tanto gostavas...A tua doença Alzheimer acelerou desde então...mas começaste a ser finalmente medicado para a mesma pois só nessa altura começaste a ser acompanhado por um médico. O problema foi mesmo a falta de ocupação mental que tinhas e a impossibilidade de saíres para não fugires...
Lembro-me dos passeios que dávamos, longos quilómetros que fazíamos desde de manhã até à tardinha, ou só à tarde mesmo, assim que me chamavas do caminho e eu contava com isso, saía logo porta a fora, ou melhor a maioria das vezes, se não tivesse ainda de terminar qualquer coisa à pressa, almoço, trabalhos de casa...
Andavamos pela serra, pela estrada alcatroada ou caminhos de terra batida ou mata mesmo, conhecias os atalhos todos e a tua curiosidade também te fazia arriscar os caminhos.
Gostavas tanto quando eu ía ver-te, ainda estavas em casa e fazia musse de chocolate ou alguma sobremesa doce, eras guloso, ao menos tentavas aproveitar as coisas boas.
Quando passei a ir ver-te ao lar, saía contigo sempre que o tempo o permitia e tu estavas bem. Ficaste mais frágil a tudo, tinha de se ter cuidado com o vestuário e o frio que pudesse estar na rua. Esticavas as pernas, íamos comer um lanchinho, um galão era certo, o resto de comer, era conforme a vontade.
Ainda te fui ver ao Hospital da Guarda, horas de viagem pra meia hora que pude estar contigo pra não chegar tarde a casa. Mal estiveste acordado, perguntaste se eu estava bem, depois disso, apagaste praticamente...levaram-te para um raio-x pensei, que azar caraças logo agora, quando é que ele volta...demoraram pouco a trazer-te de volta para o quarto...ainda tive mais um bocadinho contigo, a arrumar os pijamas mais quentes que te levei etc...e a ver o teu corpo, com nódoas, no braço, nas pernas, pés inchados... muito magro...meu Deus...só tinhas um pulmão a funcionar e estava praticamente cheio de liquido que iam tirando mas não conseguiram controlar. Do modo como te vi eu disse, ele não morre hoje, nem morre amanhã e pouco ou muito infelizmente acertei, vi-te na 5f no sábado de manhã ao ligar dizem-me, venham vê-lo agora que ele está mesmo mal...como é que eu conseguia, era impossível, meia hora depois ligam-me já tinhas partido...
Chorei e mais chorei, liguei pra minha mãe que tinha avisado que ele estava mesmo mal a dar a má notícia...liguei pro lar também a avisar e disseram que me ajudavam com a parte funerária indicando-me um e preparando a roupa.
Nessa tarde fui sozinha para cima, nem sabia o que pensar....sabia que finalmente estavas em paz mas a dor da perda fazia-me desnortear por vezes na estrada....
No funeral não fui capaz de chorar nem enquanto andei a preparar as coisas, vi-te no caixão mas pensei, eu prefiro a lembrança de ti vivo, aqui já só está o teu corpo e eu ainda me despedi de ti em vida de certa forma uma ultima vez...apenas senti aflição e tive de virar costas quando começaram a fechar o caixão....parece que só aí finalmente tive consciência de que já não respiravas, já não ía ver-te mais...
A morte é o único destino que temos traçado mas para quem fica...a morte deixa a dor da perda...a dor da saudade, o "até já" que se possa dizer, não serve de consolo, é apenas constatar um facto que poderá demorar mais ou menos a acontecer e pronto....a vida continua...até um dia...





sexta-feira, 2 de janeiro de 2015